Postagens

Pai Presente

Disclaimer: Este texto aborda especificamente a dinâmica de constituição familiar heteronormativa e concentra-se intencionalmente na presença e ausência do homem heterossexual como pai. Reconheço, valorizo e respeito todas as formas de família, independentemente de sua estrutura ou configuração, e entendo que a parentalidade vai muito além das relações heterossexuais. No entanto, o enfoque desta discussão é na abordagem do machismo arraigado na sociedade no contexto de uma família heteronormativa. Entendo que as dinâmicas familiares são diversas e complexas, e este texto não busca desconsiderar ou diminuir a importância de outras configurações familiares, mas sim problematizar questões de gênero e poder dentro do contexto mencionado. Ouvimos muito a expressão 'pai presente', ela é comum e muito familiar aos nossos ouvidos. E em 'mãe presente', já ouviram falar? Mãe presente é regra. Pai presente é exceção. A normalização da ausência paterna é um reflexo de uma sociedade

O Dia em que Conheci o Amor da Minha Vida. Ou: Meu Relato de Parto

 Era segunda-feira. Eu completara 38 semanas no dia anterior. Segundas-feiras sempre foram dia de lista de afazeres, de planejamento, de visualizar a semana que vem por aí. Sabia que o tempo de nenê no forninho estava chegando ao fim. Portanto, me preparei para agendar tudo aquilo que faltava e para fazer tudo aquilo que queria, antes de ter um recém-nascido nos braços. Pois bem, depois de um dia quente de março, com mais de 10kg a mais na pança, andando com aquela graça de pato que só as grávidas têm, aproveitei para reservar meu hotel em São Paulo - já que estava em São José dos Campos e teria filho na capital. Escolhi, depois de muita pesquisa, um hotel que tinha um Spa maravilhoso, café da manhã no quarto e que, aliás, ficava próximo ao hospital. Liguei pra lá, me certifiquei que aceitavam gestantes de 39 semanas pra fazer massagem relaxante no corpo, nos pés, e tudo mais que eu tinha direito. Perfeito, hotel agendado, spa agendado. Bora aproveitar a semana em São Paulo pra marcar

Covid só conjuga no plural

Imagem
 Hoje farei um desabafo. Algo que está guardado aqui dentro, mas que está há tempos pedindo pra sair, porque eu tento não julgar as pessoas, eu tento olhar para o meu e deixar que cada um cuide do seu. Já temos muita coisa nas nossas vidas com o que nos preocuparmos para cuidar da vida dos outros, mas - SPOILER - hoje eu vou falar dos outros... Eu vou falar dos outros porque eu vou falar de COVID. E não se pode falar de COVID sem pensar em coletividade, sociedade, empatia. E tudo isso é sobre si, mas é muito sobre o outro também. Essa doença não é individual. Quem ESCOLHE ignorar a pandemia e se arriscar a pegar a doença não pode ser comparado àquele que se coloca em situação INDIVIDUAL de risco (pular de bungee jump, fazer esportes radicais, etc). E por que? A resposta é muito simples: porque essa não é uma doença individual.  Quando você opta por se arriscar - e note aqui que uso o verbo optar, já que quem sai para trabalhar, porque precisa, não se encaixa aqui, ok?! - ir à praia, ir

As pessoas nos dão aquilo que elas têm

 As pessoas nos dão aquilo que elas têm. As pessoas nos dão aquilo que elas têm. As pessoas nos dão aquilo que elas têm. Essa frase não para de me martelar a cabeça por uma série de razões. Ela serve para que ajustemos nossas expectativas sobre os outros, para que evitemos decepções e, inclusive, para sabermos quando (e com quem) é a hora de pular fora em um relacionamento - familiar, romântico ou de amizade. Ela serve também para que entendamos que, como damos aquilo que temos, que tentemos cultivar dentro de nós bons sentimentos, boas energias, boas intenções. Porque damos, mas também nos alimentamos, do que temos dentro de nós. E isso, para mim, é uma das principais razões pelas quais devemos entender e exercitar essa frase. O que as pessoas nos dão é problema delas, o que nós damos aos outros é problema nosso. E o que esperamos dos outros é problema nosso também. Esse último, acho que é o mais controverso:  - Como não esperar nada em troca de um relacionamento - seja ele qual for -
Imagem
Eu vivi um relacionamento abusivo Aviso: gatilhos emocionais no texto. Quando eu tinha 17 anos namorei um cara de 27. Ele era lindo, bem sucedido, inteligente. E ele era amigo do meu pai. Quando ficamos a primeira vez, ele disse que pediria permissão ao meu pai e que prometeria cuidar de mim como nenhum "cara desconhecido" cuidaria. Ele não me bateu. Ele não me forçou transar. Ele não me ameaçou fisicamente. Mas ele me torturava mental e psicologicamente. Durante anos, vivi sem contar pra ninguém que o meu primeiro namoro, o cara com quem perdi minha virgindade e me imaginei casando, era meu abusador. Uma vez, quase 10 anos depois que o namoro tinha terminado, contei pra alguém que tinha tido um relacionamento abusivo e a primeira reação dela foi perguntar o porquê: "O que ele fez? Tem certeza que foi abuso? Será que você não tá exagerando?", perguntaram... E, apesar de eu ter achado (e ainda achar) essas perguntas muito cruéis (não diminua a dor de uma

O momento em que percebemos como somos insignificantes

Imagem
Esse papo de que somos uma poeira no universo, que somos insignificantes diante da imensidão do planeta nunca colou pra mim. Até hoje. Acho que o dia em que realmente me senti, não apenas insignificante, mas substituível (qual é pior, ainda to me perguntando?) foi quando pedi demissão do trabalho, depois de 4 anos na mesma empresa. O problema de pedir demissão e continuar vindo ao trabalho, é que as pessoas passam a te excluir dos assuntos “corporativos”, você PERCEBE que começa a perder importância, pouco a pouco, até que você não é mais necessário. Aquele seu lado um pouquinho mais perverso – até porque todos temos, em maior ou menor intensidade –, quer que a próxima pessoa que vai ocupar seu lugar seja mais chata, mais incompetente, mais mal-humorada e todos vão perceber não apenas a falta que você faz, mas vão te implorar para voltar para seu antigo emprego. Corta! Ou, acorda! Nada disso vai acontecer. Somos substituíveis sim, that’s a fact . E o que dizer so

Eu não tenho a menor ideia do que estou fazendo com a minha vida

Imagem
Vendo amigos por aí traçando metas, fazendo planos e realizando sonhos percebi que, aos 28 anos, ainda não descobri os meus sonhos. Pior que isso, não descobri “ what the fuck ” estou fazendo com a minha vida. Aos 25, 26 eu tinha certeza de onde estava, para onde queria ir e qual direção tomar para realizar meus sonhos. Um pouco mais de 2 anos depois, estou eu aqui, perdida, cheia de dúvidas, muito mais dúvidas do que eu tinha 2 anos antes. E tenho achado isso cada vez mais normal. Vejo um tanto de gente traçando metas para seus sonhos, estabelecendo prazos, e acho isso tão bonito que tenho uma certa inveja, até. Mas não eu. Comigo não tem sido assim. Saí de casa, me mudei do Rio para São Paulo há um ano e meio. Parece que neste momento eu estava perseguindo um sonho, traçando uma meta, mas na verdade foi apenas uma oportunidade que apareceu e que eu abracei naquele momento. Depois de muitos anos seguindo um script que eu tinha certeza que era o que queria para minha